quinta-feira, junho 21, 2007

Eram quase dez horas da noite quando ela abriu a porta do carro. Com um gesto decidido e preciso, que traía um longo hábito, inclinou o assento do condutor e atirou a maleta para o banco de trás. Aquela maleta de couro preto já gasto acompanhava-a há cinco anos. Cinco anos de prática da medicina. Cinco anos a conviver com a doença, o sofrimento, por vezes a morte. cinco anos que, parecia-lhe, equivaliam a séculos. Dentro, os seus utensílios de trabalho: estetoscópio, esfigmomanómetro, otoscópio, martelo de reflexos, uma pequena lanterna, abaixa-línguas descartáveis, poucas coisas, afinal. Numa exígua caixa plastificada, compressas, seringas e alguns medicamentos de uso corrente. A farmácia de emergência, mais específica, e também mais pesada, depressa renunciara a carregá-la em cada visita, deixando-a, a maior parte das vezes, na mala do carro.

...


Respirou fundo, bateu à porta e entrou.
Tentando que o seu sorriso fosse tranquilizador, falando calma e pausadamente, excplicou uma e outra vez, o melhor que podia, escolhendo palavras simples, banindo os termos técnicos.
Perguntou então a si próprio qual o imbecil que dissera que, com o tempo, os médicos se couraçavam contra o sofrimento.

...


O Sol ia baixo, próximo da linha do horizonte. Uma bola avermelhada que emprestava rutilância a uma nesga de céu azul entre duas massas de nuvens. Não tardaria a ser noite. Nessa época do ano, a luz solar não se eternizava, o dia declinava ainda antes das cinco da tarde. Fora mais ou menos a essa hora que voltara para casa.





Aqui fica a sugestão: História de Uma Médica - Laurence Dal Cappelo

Sem comentários: