domingo, dezembro 10, 2006

Menina sem Nome

Magrinha, sem nome, vestida de trapos,
lá vai pela rua a menina sem lar.
Os pés sem sapatos, os olhos sem brilho
e no coração vontade de amar.

Criança sem dono, com fome, com frio,
arrastando nas ruas sua sorte sem dó,
perguntando à Vida (por que sem resposta)
"Se sou tão pequena, por que vivo só?"

Num tempo bem longe, perdido no tempo,
tinha uma casa de flor na janela:
lá dentro era quente, bonito, alegre,
papai era forte e brincava com ela.

Mas um dia a desgraça bateu lá na porta,
numa noite fria papai foi embora:
por onde saiu entrou a tristeza,
entrou a pobreza que estava lá fora.

Nunca mais a miséria deixou a sua casa:
mamãe trabalhava a mais não poder,
a flor da janela murchou sem ruído,
tudo foi vendido pra ter que comer.

E mamãe que era boa, era jovem, era bela,
como a flor da janela, começou a murchar
e numa noite, sozinha, chamando: "filhinha",
trocou esta terra por outro lugar.

Então a menina saiu pelas ruas,
puxando a saudade em vez de brinquedo,
pedindo pão, chorando de frio,
num mundo vazio, fugindo de medo.

De medo dos guardas, de medo do mundo,
de medo de tudo, de medo da vida,
chamando "mamãe"...baixinho, baixinho,
sentindo no peito uma saudade doída.

Vontade de ir embora, sem saber pra onde,
fugir deste medo, da fome, da dor,
encontrar um cantinho onde haja alegria,
uma boneca de pano, um resto de amor.

Na morte que a espreita de um canto da rua,
talvez ela encontre a alegria perdida.
Assim, segue sozinha, de olhos enormes
abertos no nada, fugindo da vida...

Menina sozinha, sem nome, sem tecto,
que foge de tudo, suplica em vão?
Só pede um afecto, um lar, um carinho,
um recto caminho - o teu coração.

Myrtes Mathias

1 comentário:

anog disse...

la no fundo, somos todos uma menina(o) sozinha(o) à procura... excepto os que já encontraram claro...

kiss*