quarta-feira, dezembro 27, 2006

Mas o mundo é sempre melhor depois duma abelha ter encontrado a sua flor.

Myrtes Mathias


Nuvens
Vontade de fazer nada,
ficar deitada,
olhando as nuvens que passam
sem meta, sem destino, como eu.
Estratos,
cúmulos,
nimbos,
cirros...
Todos os tamanhos,
todas as formas.
Pesadas como meu corpo,
leves como meus sonhos.
Transformar-se-ão na chuva que abençoa
ou na tempestade que destrói?
Carneirinhos brancos,
flores de algodão,
filamentos sem forma,
asas de anjos...
Negras, pesadas, compactas.
Céu de chumbo.
Estratos,
cúmulos,
nimbos,
cirros...
Submissas, indefesas, efémeras.
Perigosas, traiçoeiras:
destino dúbio.
Sofismas.
E eu?
Cirro que se desfaz em filamentos
à mercê do vento....


Myrtes Mathias
Porque o silêncio não é como as pessoas o pintam...
Vou deixar de ser assim...
t u d o = n a d a

terça-feira, dezembro 26, 2006

Recebi uma sms com um pensamento que dizia "Já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também já decepcionei alguém..."


Olho para esta frase e só me dá vontade de chorar...Este ano decepcionei muita gente, não importa a quantidade de pessoas que decepcionei. O que importa é que decepcionei pessoas que me são (ou eram...) próximas...Nem com a ajuda dos dedos das mãos e dos pés dava para contar o número de pessoas que decepcionei este ano.. Sinto-me em baixo...Não passa um único dia sem que eu desiluda alguém. Então, ponho-me a pensar que às vezes mais vale ser desiludida do que desiludir...


Vou bater com a cabeça várias vezes na parede...adeusinho..


autodesilusão...autodesilusão...autodesilusão...











autodesilusão...autodesilusão...autodesilusão...autodesilusão...autodesilusão...

domingo, dezembro 10, 2006

Menina sem Nome

Magrinha, sem nome, vestida de trapos,
lá vai pela rua a menina sem lar.
Os pés sem sapatos, os olhos sem brilho
e no coração vontade de amar.

Criança sem dono, com fome, com frio,
arrastando nas ruas sua sorte sem dó,
perguntando à Vida (por que sem resposta)
"Se sou tão pequena, por que vivo só?"

Num tempo bem longe, perdido no tempo,
tinha uma casa de flor na janela:
lá dentro era quente, bonito, alegre,
papai era forte e brincava com ela.

Mas um dia a desgraça bateu lá na porta,
numa noite fria papai foi embora:
por onde saiu entrou a tristeza,
entrou a pobreza que estava lá fora.

Nunca mais a miséria deixou a sua casa:
mamãe trabalhava a mais não poder,
a flor da janela murchou sem ruído,
tudo foi vendido pra ter que comer.

E mamãe que era boa, era jovem, era bela,
como a flor da janela, começou a murchar
e numa noite, sozinha, chamando: "filhinha",
trocou esta terra por outro lugar.

Então a menina saiu pelas ruas,
puxando a saudade em vez de brinquedo,
pedindo pão, chorando de frio,
num mundo vazio, fugindo de medo.

De medo dos guardas, de medo do mundo,
de medo de tudo, de medo da vida,
chamando "mamãe"...baixinho, baixinho,
sentindo no peito uma saudade doída.

Vontade de ir embora, sem saber pra onde,
fugir deste medo, da fome, da dor,
encontrar um cantinho onde haja alegria,
uma boneca de pano, um resto de amor.

Na morte que a espreita de um canto da rua,
talvez ela encontre a alegria perdida.
Assim, segue sozinha, de olhos enormes
abertos no nada, fugindo da vida...

Menina sozinha, sem nome, sem tecto,
que foge de tudo, suplica em vão?
Só pede um afecto, um lar, um carinho,
um recto caminho - o teu coração.

Myrtes Mathias

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Continuo na idade dos porquês,
de saltar às cordas, jogar à cabra cega e saltar ao eixo.
Continuo na idade das correrias e dos trambolhões...
Continuo a estatelar-me ao comprido num chão que parecia distante,
tento levantar-me de um salto, mas sem sucesso...
no entanto, vou tentando mobilizar aos poucos cada músculo
do meu corpo, que vou erguendo suavemente.

Pensei que as sapatilhas não escorregassem,
mas a chuva, sem que eu me apercebesse,
tinha transformado o pavimento num ringue de patinagem..

Cai granizo.
Tenho o cabelo totalmente desgrenhado.
Os meus pés estão enregelados,
as minhas mãos completamente insensíveis.
Apanho um papel do chão,
levo a mão à mochila, retiro as canetas
e começo a desenhar linhas.
Por mais que tente saem sempre tremidas,
mas não deixam de ser linhas...

Agarro as canetas com força,
quando inesperadamente uma esfera
me atinge certeiramente o canto do olho.
Os meus lábios e queixo começam a tremer,
enquanto tento segurar as lágrimas.
Levanto-me, olho em volta...
não se encontra vivalma na rua.
Observo as luzes do semáforo,
esboço um sorriso...

Continuo na idade de escrever o que me vem à cabeça..
Continuo a bater com o pé,
a afirmar que gosto de laranjas
e que não me importo que sejam levemente ácidas,
desde que sumarentas!
Continuo a deambular pelo jardim,
a tropeçar nas heras,
a bater com a cabeça no diospireiro
e a arranhar-me nos braços espinhosos
daquela tão frágil framboeseira...

Começo a correr e não páro...
Esta 4ª feira descobri que quando as pessoas dizem que sou parva têm razão (anatómicamente falando)...
Fecho os olhos...