Continuo na idade dos porquês,
de saltar às cordas, jogar à cabra cega e saltar ao eixo.
Continuo na idade das correrias e dos trambolhões...
Continuo a estatelar-me ao comprido num chão que parecia distante,
tento levantar-me de um salto, mas sem sucesso...
no entanto, vou tentando mobilizar aos poucos cada músculo
do meu corpo, que vou erguendo suavemente.
Pensei que as sapatilhas não escorregassem,
mas a chuva, sem que eu me apercebesse,
tinha transformado o pavimento num ringue de patinagem..
Cai granizo.
Tenho o cabelo totalmente desgrenhado.
Os meus pés estão enregelados,
as minhas mãos completamente insensíveis.
Apanho um papel do chão,
levo a mão à mochila, retiro as canetas
e começo a desenhar linhas.
Por mais que tente saem sempre tremidas,
mas não deixam de ser linhas...
Agarro as canetas com força,
quando inesperadamente uma esfera
me atinge certeiramente o canto do olho.
Os meus lábios e queixo começam a tremer,
enquanto tento segurar as lágrimas.
Levanto-me, olho em volta...
não se encontra vivalma na rua.
Observo as luzes do semáforo,
esboço um sorriso...
Continuo na idade de escrever o que me vem à cabeça..
Continuo a bater com o pé,
a afirmar que gosto de laranjas
e que não me importo que sejam levemente ácidas,
desde que sumarentas!
Continuo a deambular pelo jardim,
a tropeçar nas heras,
a bater com a cabeça no diospireiro
e a arranhar-me nos braços espinhosos
daquela tão frágil framboeseira...
Começo a correr e não páro...