sexta-feira, julho 20, 2007


"A criancinha quer Playstation. A gente dá.A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em festim de chocolate.A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umast antas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha.A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente.A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando.A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua.Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher. Desperta.É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada.A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira.A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca».Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôrnos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal. Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora.Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola eespetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu».A criancinha cresce. Cresce e cresce.Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias».Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha? Pois não, bem sei. Estou apenas a antecipar-me.Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo.E então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos."

domingo, julho 08, 2007

Dead of Winter - Eels
Standing in the dark outside the house
Breathing in the cold and sterile air
Well I was thinking how it must feel
To see that little light
And watch it as it disappears
And fades into
And fades into the night

So I know you're going pretty soon
Radiation sore throat got your tongue
Magic markers tattoo you
And show it whare to aim
And strangers break their promises
You won't feel any
You won't feel any pain

And the streets are jammed with cars
Rockin' their horns
To race to the wire
Of the unfinished line
Thought that I'd forget all about the past
But it doesn't let me run too fast
And I just wanna stand outside
And know that this is right
And this is true
And I will not
Fade into
Fade into the night

Standing here in the dark